“Vacinar ou não vacinar?” – eis a questão 

“Vacinar ou não vacinar?” – eis a questão

12 Outubro 2020

Esta é realmente uma questão que tem estado um pouco na moda recentemente e, como tal, acho que merece algumas considerações.

Antes de começar, queria apenas esclarecer qual é a minha posição: não tenho dúvida nenhuma em afirmar que todas as crianças devem ser vacinadas! Não quero, de forma alguma, ser mal interpretado no que vou escrever a seguir, nem fazer nenhum juízo de valor sobre quem tem uma opinião diferente, mas é importante esclarecer esta minha posição.

De um modo geral nós, pediatras, somos tradicionalmente adeptos das vacinas e isto deve-se à grande mudança que elas impuseram na nossa prática profissional, nomeadamente na redução muito marcada na prevalência de algumas doenças que acarretavam uma alta mortalidade e/ou sequelas para as crianças.

Por vezes, colocam-se dúvidas sobre a sua segurança, mas é fundamental perceber que as vacinas são submetidas a inúmeros e rigorosíssimos testes e anos de experiências progressivas antes de serem utilizadas. Para além disso, a maior parte delas tem já muitos anos de uso desde o seu lançamento, o que permite assumir, com elevado grau de certeza, que estamos a falar de produtos extremamente seguros. A isto junta-se uma enorme eficácia na prevenção das doenças, o que torna as vacinas altamente defensáveis.

Relativamente aos receios que as pessoas apresentam, uma das questões mais recorrentes é a suposta associação de algumas vacinas ao autismo ou outras doenças neurológicas. Hoje em dia já se vai conhecendo mais um pouco sobre as causas do autismo e, quanto mais se conhece, mais se conclui que não existe nenhuma relação direta com as vacinas. Se não fosse assim, elas não seriam aprovadas pela Agência europeia do medicamento nem pelo Infarmed, que é a entidade que regulamenta todos os medicamentos em Portugal, nem seriam aceites internacionalmente. Outro dos receios que por vezes é apresentado é o medo de inocular microrganismos nas crianças. Apesar das primeiras vacinas terem realmente sido assim, hoje em dia a esmagadora maioria utiliza apenas pequenas partes que são produzidas em laboratório e não o agente da doença. Assim, consegue-se ter a mesma produção de anticorpos de forma muito mais segura e com muito menos efeitos laterais. Mesmo quando são utilizados microrganismos inteiros, eles são inativados ou adormecidos, de forma a garantir a segurança, sem perder eficácia.

Assim, respeito que haja opiniões diferentes, mas devemos ser objetivos e imparciais quando as analisamos. Não faz muito sentido existir uma discussão quando uma das partes se baseia em dados científicos objetivos com anos de evidência e a outra se baseia apenas em relatos esporádicos, assente em opiniões sem nenhum tipo de evidência ou fundamentação científica. Mais uma vez repito que aceito que haja formas diferentes de ver esta questão, mas não acho que os argumentos contra e favor tenham o mesmo tipo de profundidade e conhecimento.

Portugal é um caso de sucesso relativamente ao Programa Nacional de Vacinação, citado em inúmeros congressos em todo o mundo, pelo que me custa colocar sequer a possibilidade de deitar todo esse esforço por terra. Não tenho dúvida nenhuma que isso seria um retrocesso grande em termos de saúde pública, que viria a ser pago por todos nós e, principalmente, pelas gerações que vêm a seguir.

Por isso mesmo, aqui fica a resposta à questão colocada acima: “Vacinar ou não vacinar?” Claro que sim, VACINAR!

 

Por: Doutor Hugo Rodrigues, Pediatria Para Todos

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